Metodologia do Significado

Este caderno de anotações utiliza uma metodologia de pesquisa exploratória, desenvolvida para ser aplicada de forma crítica na interação com a inteligência artificial.

1. Princípio orientador

A metodologia parte de um gesto simples: tomar o conceito como campo de investigação, não como objeto delimitado. O conceito é compreendido como uma forma viva de sentido, que se desdobra, se contradiz, se revela e se transforma conforme é pensado. A função da metodologia não é contê-lo, mas abrir espaço para que ele manifeste suas próprias dimensões linguísticas, simbólicas, estruturais e fenomenológicas. Assim, o processo metodológico não pretende definir, mas escutar: permitir que o conceito fale, e que o pensamento se organize em torno daquilo que emerge.

2. Estrutura processual

A metodologia se desenvolve em quatro movimentos orgânicos, que se repetem e se reconfiguram conforme o tema se expande. Esses movimentos não são etapas lineares, mas camadas que se entrelaçam no decorrer da pesquisa.

2.1 Escolha do conceito-núcleo

O ponto de partida é sempre uma palavra, um termo, uma expressão aparentemente simples, mas com densidade potencial, por exemplo, autopoiese, sagrado, presença, ontologia, limite. Esse conceito é tratado como um centro de gravidade semântico, a partir do qual o campo de investigação se organiza espontaneamente.

2.2 Abertura de campo

A seguir, o conceito é exposto à sua própria amplitude. Exploram-se suas variações de uso nas referências bibliográficas, suas camadas linguísticas, e seus modos de aparecer na experiência dialógica com a inteligência artificial. Esse momento é exploratório e não restritivo: o pesquisador se coloca em estado de observação crítica, permitindo que associações e relações emergentes se manifestem, moldando ativamente as sucessivas interações.

2.3 Explosão de significado

Ao ser tensionado por múltiplos contextos técnicos, poéticos, existenciais ou simbólicos, o conceito começa a expandir-se. Essa explosão não é desordem, mas auto-organização semântica: as conexões se formam conforme a atribuição de sentido amadurece, de acordo com a subjetividade do pesquisador. O pesquisador acompanha esse processo como parte integrante do campo, permitindo-se ser influenciado pelas conexões reveladas pela inteligência artificial, apenas como potencializadora da capacidade analítica.

2.4 Recolhimento fenomenológico

Após o movimento expansivo, o pensamento se recolhe para observar o que se formou. Não se busca conclusão, mas configuração: compreender o que se revelou, quais relações se tornaram visíveis, e de que maneira o conceito se reorganizou. O resultado não é uma definição, mas uma cartografia do sentido, um mapa dinâmico do que o conceito foi capaz de produzir em pensamento, porque paradoxalmente a inteligência artificial não tem a resposta. O texto final realiza-se nas vivências humanas, nas contradições, nos acolhimentos, (CHAVES; MENDONÇA, 1997).

3. Dinâmica do processo

A metodologia opera de modo não-linear e autorreferente. Cada conceito, ao ser explorado, cria seu próprio método interno, como um conjunto de relações que passa a orientar a pesquisa subsequente. O processo é, portanto, autopoiético: a investigação gera sua própria forma de investigar. O percurso não se apoia em procedimentos prévios, mas em sensibilidade epistêmica, através da atenção ao modo como o sentido se manifesta. A coerência surge por emergência, não por imposição: o rigor nasce da fidelidade ao fenômeno, e não da obediência a uma estrutura externa, especialmente das sugestões dadas pela inteligência artificial, visto que é limitada na experiência dos aspectos da vida humana, (PSICOSE DE IA: por que tem gente enlouquecendo com ChatGPT?, 2025).

4. Critérios de rigor

Ainda que não-linear, o método mantém princípios de consistência:

4.1 Transparência do percurso: o pesquisador explicita suas decisões, movimentos e inflexões durante o processo.

4.2 Coerência interna: as partes do texto se relacionam organicamente, preservando um eixo semântico comum.

4.3 Reflexividade: o sujeito da pesquisa reconhece sua própria implicação e presença no campo de estudo, assim como da inteligência artificial.

4.4 Emergência de sentido: a validade do trabalho se mede pela qualidade e profundidade das relações que emergem do conceito.

Esses critérios substituem a noção tradicional de “objetividade” por uma ética da presença, em que o pensamento e a interação analítica e crítica com a inteligência artificial são parte do fenômeno investigado.

5. Natureza exploratória

Esta metodologia é exploratória por princípio. Não busca demonstrar, mas relacionar; não pretende estabilizar, mas movimentar o pensamento. O resultado esperado não é uma tese conclusiva, mas um campo de ressonância, uma rede de significados que possam ser retomados, criticados, ampliados. Assim, o texto que dela resulta não é fechamento, mas abertura: uma forma viva de pensamento que continua no leitor, que é convidado à busca de um significado compartilhado.

6. Finalidade

A metodologia do significado reconhece que todo conceito é um modelo limitado dos fenômenos percebidos. Pensar, nesse contexto, é permitir que a realidade seja refletida em nós através da linguagem. Cada conceito-núcleo é um símbolo, e a pesquisa é o gesto de contemplá-lo com atenção, sem antecipar a sua origem mais profunda. Por isso, o método não se propõe como modelo, mas como prática de escuta analítica crítica, um modo de estar em relação com o pensamento, o ambiente e o sentido.

Avatar de User

Subscribe to Caderno de Anotações Filosóficas

Inscreva-se usando seu email para receber as últimas anotações do caderno.

People